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Os Quatro Amores De Babi Basco - Parte 4

 

Novamente perto do final do ano, estávamos nos aproximando do Natal. EU AMO NATAL. A família reunida, as trocas de presentes, a ceia, o calor do verão... tudo isso me deixa muito feliz.

Mas antes de chegar o momento de celebrar o Natal com a família, tenho que comemorar no trabalho.

Eu sei que tem um monte de gente que acha as festas da empresa chatas, mas eu me divirto muito com o final de ano da On. Primeiro porque meu chefe sempre bebe demais e conta histórias que ninguém quer saber, mas que acabam se tornando piadas no ano seguinte; segundo porque a comida encomendada é sempre maravilhosa; e terceiro porque eu e o Pedro Lucas sempre fugimos com alguma garrafa para o parquinho velho que tem na frente da empresa (fruto do que o imóvel era antigamente, mas eu não sei ao certo) e fazemos uma recapitulação do que aconteceu durante o ano, seja com o pessoal do trabalho, seja com quem estudou com a gente, seja em nossas vidas pessoais mesmo. Lembramos das coisas divertidas, emocionantes e embaraçosas.

Coloquei um vestido midi preto de mangas curtas colado e alisei o meu cabelo (pela única vez no ano), finalizei com tênis (porque até parece que eu iria colocar um salto), fiz uma maquiagem básica (mas não tão básica assim, porque fiz um delineado) e fui rumo ao escritório.

            Cheguei lá e senti o cheiro maravilhoso dos canapés e dos salgadinhos e me juntei à Maria, que faz a revisão da maior parte dos meus artigos, no canto da sala.

            - Não vai pegar nada para beber? - Ela me perguntou.

            Sentindo-me estimulada, fui até a mesa de bebidas e enchi uma taça de frizante.

            “Mas vou tomar só essa.”

 

- Toma mais uma, Babi! - Ofereceu o Cláudio, meu chefe, segurando a garrafa cheia de líquido borbulhantes.

            “E eu lá vou dizer não para o chefe?”

            Quando me dei conta, já estava na quinta taça daquela bebida adocicada e refrescante.

            - Isso aqui tá muito bom! - Gritei, mais alto do que deveria, para as meninas.

            Foi quando vi uma dupla do jurídico passar pela porta.

            - Pedro Lucas! Você está atrasado. - Separei as sílabas da última palavra, enrolando um pouco a língua.

            Dei um abraço em meu amigo, que cochichou em meu ouvido.

            - E você está bêbada.

            - Shhhh. - Falei. - O Cláudio não pode saber!

            Só que, quando me dei conta, eu estava possuída pelo ritmo ragatanga, dançando com o chefe no meio da sala. Todo mundo estava rindo, então acho que deviam estar se divertindo, por isso continuei.

            - Bota a mãozinha na parede...

            Por fim, acabamos em uma roda enquanto o Cláudio contava histórias de sua infância e adolescência. Ficamos sabendo que seu primeiro beijo foi tão horrível, porque a menina tinha um bafo de lixo, que ele passou vinte minutos escovando os dentes depois que voltou para casa.

            Lembrei do meu primeiro beijo: foi com catorze anos, ao final de uma festa, depois de levar um fora do cara com quem eu realmente queria ficar (eu não era muito bonita na época, não posso culpá-lo). Não foi babado, ninguém tinha bafo e não teve qualquer mordida no meio. Foi perfeito para o momento. Depois desse vieram alguns poucos ainda durante o colégio. Alguns que o garoto em questão não queria, alguns que eu não quis... e depois veio o meu glow up dos dezoito anos e aí a vida ficou bem mais fácil.

            Fui ao banheiro, comi um pouco e, ao ver que tiraram mais uma garrafa de frizante da geladeira, fui de fininho até a mesa e peguei-a.

            - Pedro Lucas. - Chamei meu amigo, baixinho.

            Fiz sinal para irmos para fora e ele sorriu, seguindo-me.

            Derrubei meu corpo no balanço da direita, o que fez com que o brinquedo balançasse (olha só! Um balanço balançando. Quem diria?). Fiquei tonta.

            - Opa. - Pedro Lucas fez com que parasse. - Está melhor assim?

            Fiz um joinha com a mão e tomei um gole da garrafa.

            - Isso aqui tá muito bom. - Declarei.

            - Pelo tanto que você tá bebendo, eu tenho certeza. - Meu amigo respondeu.

            Não consegui evitar soltar uma risada, logo antes de passar a garrafa para as mãos dele. Pedro Lucas tomou um gole e então falou:

            - E então, quem começa?

            - A Clara Moreira casou este ano. Estamos ficando velhos, Pedro Lucas.

            - Pelo que me lembro, ela só se casou porque engravidou, então talvez não estejamos ficando velhos, e sim ela que esteja ficando descuidada.

            Gargalhei.

            - Mas desejo que seja feliz.

            - E que o bebê venha com saúde! - Ele levantou a garrafa.

            Não somos pessoas ruins!

            - A Maria ganhou um aumento este ano, ela me contou. - Falei.

            - E o Lauro, do escritório, foi promovido. - Pedro Lucas contou.

            - Que bom pra ele. Me passa a garrafa?

            - Você não acha que já bebeu demais hoje?

            - Quem é você? Minha mãe? - Estendi a mão.

            Pedro Lucas levantou as sobrancelhas e fez uma expressão de reprovação, mas me passou o frizante.

            Depois de cobrirmos a vida de basicamente todo mundo que conhecemos e eu me sentir completamente estufada, passamos a falar de músicas e filmes que marcaram o ano, até a bebida subir à cabeça do Pedro Lucas e ele tomar a péssima decisão de se balançar naquele balanço velho.

            - Não faz isso. - Alertei.

            - Quem é você? Minha mãe?

            “Touché.”

            Pedro Lucas começou a se balançar e a gritar.

             - Uhul! Estamos de férias! Aeee!

            Sorri involuntariamente, mas logo meu sorriso se transformou em uma expressão de preocupação, quando ouvi o barulho de uma das correntes se rompendo, e Pedro Lucas foi ao chão.

            - Pedro Lucas!

            Por sorte, o balanço quebrou quando ele estava no local mais próximo do chão, então a queda não foi tão grave. Mesmo assim, fiquei preocupada, e me joguei ao lado de seu corpo para ver como meu amigo estava.

            - Ai. - Ele gemia.

            - Tá doendo muito? Onde machucou?

            Ele não me respondeu. Ficou em silêncio e, do nada, começou a rir.

            - Eu caí. - E ria mais ainda.

            Não consegui evitar acompanhá-lo, vendo o cômico da situação: um advogado animado, em um brinquedo de parquinho, indo ao chão.

            - Foi feio. - Falei, entre gargalhadas.

            Ele parou para respirar por um momento e tocou a ponta de meus cabelos.

            - Seu cabelo ficou legal assim, mas eu prefiro normal.

            - É só pra mudar um pouquinho. - Falei, alegre.

            Subi meu olhar até seus olhos, que não estavam cobertos por seu tão característico par de óculos naquele dia, pois o Pedro Lucas usa lentes de contato em eventos especiais. Parei para prestar atenção ao castanho esverdeado que chamava atenção em seu rosto.

            “Lindo. Reluzente.”

            Antes que eu me desse conta, estava abaixando meu corpo, em direção ao seu, sincronizando a direção de nossos lábios.

            Pedro Lucas arregalou os olhos.

            - O que você tá fazendo, Babi?

            Ele me afastou e se levantou em um súbito, toda a dor e riso sumindo de uma só vez.

            - É... eu... - Fiquei sem saber como responder. - Eu só... fiquei a fim.

            Nunca achei o Pedro Lucas bonito, talvez por sermos muito amigos. Mas ali, sendo iluminado pelo brilho lunar, ele passou a despertar minha atenção de uma forma como nunca antes.

            Ele arregalou os olhos e então esfregou o rosto. Quanto tirou as mãos da frente de sua expressão, vi que estava com os lábios apertados um contra o outro.

            - Calma, Pedro Lucas, não precisa de tudo isso também. Seria só pra gente... se divertir, sei lá.

            - É. - Ele colocou as mãos nos quadris, parecendo tomado pela raiva. -Seria só isso, uma diversãozinha pra depois você chamar de erro conduzido pela bebida.

            - Peraí.

            - Você tá super bêbada Babi, não quer fazer isso de verdade.

            - Ei! Eu quero sim. Posso até estar alcoolizada, mas eu sei o que quero ou não. Eu me senti atraída por você, tem algo de errado nisso? - Levantei-me, finalmente.

            - Não é justo, só isso.

            - Não é justo? - Fiquei sem entender nada.

            Foi quando ele explodiu.

            - Não é justo que eu tenha passado anos apaixonado por você, desde que a gente estava na escola e, quando eu finalmente supero todos aqueles sentimentos, anos depois, você decida se sentir interessada por mim.

            - Pera... você era apaixonado por mim? Eu não sabia disso.

            - Ah Babi, conta outra. Eu respondia quase todos os seus stories falando que você era linda e que queria casar contigo e você diz que não fazia a mínima ideia que eu queria ficar com você?

            - Eu achei que estivesse sendo um bom amigo, e brincando também. -Falei, baixinho

            - Toda brincadeira tem um fundo de verdade. - Ele chutou um pouco de areia.    

            - Pedro Lucas, me desculpe, de verdade, eu não sabia.

            - Você não sabia? Pois eu sei de muita coisa, viu? Eu sei que você queria ser a Barbie quando era criança, e achava que realmente tinha chances, porque é loira, se chama Bárbara e ama usar rosa.

            Não consegui evitar soltar uma risadinha, pois aquilo era verdade.

            Ele continuou:

            - Eu também sei que você odeia coelhos, porque tinha um no seu condomínio que sempre atiçava a sua cachorra e enchia seu jardim de cocô.

            Mais uma verdade.

            - Outra coisa que eu sei é que você fica linda sem maquiagem, apesar de não deixar quase ninguém te ver assim. Sei que tem medo de altura, quer se casar no campo e ter dois filhos. Sei também que adora assistir a jogos de vôlei mas odeia jogar, que seu filme favorito é “O Primeiro Amor”, e você odeia que alguém confunda com “Meu Primeiro Amor”, e queria muito ter vivido um amor de infância, pré-adolescência ou até mesmo adolescência para ter essa história para contar, de um primeiro beijo fofo e declarações em bilhetes e cartinhas. Eu ainda por cima sei que você se apaixonava por cada cara que passava por você e se decepcionava cada vez mais, indo chorar as mágoas para suas amigas e às vezes até mesmo para mim, que tive que escutar por anos a garota por quem eu era apaixonado falando de outros desgraçados que não cuidavam do coração dela, que parece que tem cegueira, porque nunca olhou para o lado!

            “Uau.”

            Fiquei totalmente embasbacada, sem saber como responder àquilo. Será que eu deveria pedir desculpas? Mas não tenho culpa de nunca ter me sentido atraída por ele antes de hoje.

            - E aí você bebe pra caramba e de repente me vê como uma opção? Não tem coisa pior. Eu não quero você bêbada, com as ideias distorcidas, Babi. Eu nem quero você mais, eu acho.

            Ok, agora é ele que tem que pedir desculpas.

            Ficamos alguns instantes nos encarando em silêncio, até ele colocar a mão na parte de trás da cabeça e falar:

            - Minha cabeça começou a doer. Eu acho que vou embora.

            Concordei com a cabeça.

 

O dia seguinte foi de ressaca pesada. Nem consegui ficar feliz pelo início das minhas férias, pois estava com uma imensa dor de cabeça. E a ressaca moral não ajudava nem um pouco.

            Não conseguia acreditar que o Pedro Lucas tinha sido apaixonado por mim por tanto tempo.

            Pensei em mandar mensagem para ele, mas não sabia se seria uma boa ideia. Talvez devesse esperar ele mandar mensagem para mim.

            Não consegui aguentar, mandei uma mensagem, perguntando se estava tudo bem.

 

Só que ele não respondeu. Nada. Em nenhum momento.

            As férias passaram (e eu nem me encontrei com o Felipe, pois ele tinha começado a namorar). O pior que tudo é que não conseguia tirar o Pedro Lucas da cabeça. De repente, tudo nele começou a ficar mais interessante: o cabelo castanho claro, o trabalho como advogado, o tênis de mesa que ele jogava, as piadas sem graça que ele fazia e, principalmente, aqueles olhos, que por tantas vezes me olharam e me enxergaram, mas eu não retribuí da mesma forma.

 

Quando voltei para a On, em janeiro, fiquei receosa. Será que o Pedro Lucas iria falar comigo? Será que ele iria me evitar? Será que ele tinha pedido para o chefe para não atuar mais na revista?

            “Não. Ele não faria isso. Não jogaria fora uma parte do seu trabalho em função de uma intriga pessoal.”

            E eu estava certa, pois logo no início da tarde do primeiro dia, ele apareceu.

            Desta vez, não o chamei. Apenas olhei para ele enquanto passava, mas ele desviou o olhar. Não chegou perto, não disse nada, não demonstrou reação ao me ver.

            Decidi esquecer isso, eu tinha mais o que fazer. Tinha o trabalho para me preocupar, e existem milhões de rapazes pelo mundo, eu não tinha por que ficar fixada em um.

            O problema é que o Pedro Lucas não saía do meu pensamento. Todo o nosso tempo de amizade. Todas aquelas vezes em que ele me chamava de linda, sorria e se aproximava. Todas as vezes em que ele me fez rir. Todas as vezes em que o admirei como pessoa, mas nenhuma chegava perto do quanto eu o admirava agora.

            Não aguentei mais uma vez, mandei outra mensagem, pedindo para falar com ele.

            Nos encontramos no parquinho, ao fim do expediente, ele sentado no balanço e eu em pé.

            - Acho que sei o que você quer. - Ouvi-o dizer, assim que me aproximei.

            - Sabe? - Cruzei os braços.

            - Quer nossa amizade de volta, porque eu realmente fui um babaca sumindo completamente. Me desculpa.

            Balancei a cabeça.

            - Não. Não é isso que eu quero.

            - Não? - Ele levantou as sobrancelhas. - Então o que você quer?

            Dei um passo para mais perto dele.

            - Eu quero tentar.

            - Tentar? - Ele parecia confuso.

            - Eu percebi o quanto você é um cara maravilhoso, e eu, Babi Basco, quero ficar com você, Pedro Lucas.

            Seu queixo caiu.

            Aproximei-me mais um pouco.

            - Agora não é o momento. - Ele olhou para baixo.

            - Eu sei que eu estou atrasada. Mas qual é, Pedro Lucas, vai dizer que não sobrou nem um resquício do que você sentia por mim? Meus sentimentos também são muito iniciantes, a gente pode fazer isso crescer juntos.

            Ficamos os dois em silêncio por alguns segundos, até que ele finalmente levantou a cabeça e falou?

            - E se der errado? E se destruirmos a nossa amizade?

            - Mais do que você já destruiu?

            - Desculpa... mas não foi mais do que você fez com o meu coração no passado.

            Os dois soltamos um riso constrangido, e aí decidi me aproximar o máximo possível, sentando-me em seu colo.

            - Babi!

            - E se der certo?

            Olhamos um dentro dos olhos do outro e, com os peitos subindo e descendo, sincronizamos nossas respirações e nos inclinamos um em direção ao outro para um beijo que eu só posso definir como incrível.

 

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