Chegou o final do ano, e com ele as minhas FÉRIAS.
Quase um mês de descanso foi coroado com um janeiro na
praia. Cheguei lá parecendo um cachorrinho: com a cabeça para fora da janela,
só faltou a língua balançando no ar.
- Babi, para com isso que estamos chegando. - Isso quem
disse foi meu pai.
Eu AMO praia. (Eu sei que já disse que AMO arte, mas
posso amar mais de uma coisa, não é mesmo?)
Chegamos ao apartamento e arrumei tudo o mais rápido que
pude, para já colocar o meu biquini e descer tomar um Sol.
Ouvindo o barulho do mar, com os olhos escondidos atrás
de um par de óculos escuros, comecei minha jornada praiana.
Foi no terceiro dia, ao final
da manhã, quando eu estava sozinha deitada em uma espreguiçadeira em frente à
maré, besuntada de tanto protetor solar, que uma coisa estranha aconteceu.
- Você!
Era uma voz masculina, mas não imaginei que pudesse ser
sobre mim, então simplesmente ignorei.
- Menina de óculos-de-sol, lendo livro.
“Ok, deve ter um milhão de meninas de óculos-de-sol lendo
livros nesta praia.”
- Com o sinal de nascença no braço.
É o seguinte: eu tenho uma mancha um pouco mais escura
que o restante da minha pele, enorme, no antebraço direito. Ela cobre quase
metade do meu membro e é completamente disforme. Aprendi a amá-la com o tempo,
convencendo-me que tive a oportunidade de ser tela para uma arte abstrata.
Aquilo foi muito específico.
Levantei o rosto para ver de onde vinha a voz e avistei o
garoto mais lindo que eu já vi na vida: cabelo preto cortado rente à cabeça,
olhos igualmente escuros e um corpo de dar inveja. Seu abdome não chegava a ser
marcado, o que eu acho perfeito. Os braços eram levemente musculosos e o
sorriso carimbava aquele rosto que parecera tem sido feito com pincel.
“Lindo”
Por que aquele lindo estava me chamando?
Tratei de fechar a boca enquanto ele se aproximava mais e
mais. Joguei o cabelo para o lado (antes dele chegar perto o suficiente para
ser atingido) e esperei que se abaixasse. Quando isso aconteceu, ele disse:
- Caraca, nunca imaginei que te veria de novo.
Busquei em minha mente memórias daquele deus grego...
“Não. Nada.”
- Me desculpe, eu acho que você deve estar se
confundindo, eu não conheço você.
O homem dos meus sonhos soltou uma risada.
- O seu nome é alguma coisa com repetição da mesma
consoante. Luli, Duda, Ciça. - Ele estalava os dedos enquanto tentava se
lembrar. – Babi!
Deixei que minha boca se abrisse de novo, mas desta vez,
era de consternação.
- Sim... como você sabe?
- Você não deve se lembrar de mim, mas nós ficamos em um
Carnaval anos atrás. O meu nome é Felipe.
Busquei na minha memória algum Felipe em quem eu tivesse
dado uns beijos em algum dos poucos carnavais que festejei.
“Felipe, Felipe, Felipe... Ai Meu Deus.”
Foi quando lembrei do Carnaval de 2019 e de um menino
magrinho de aparelho que tinha o cabelo despenteado e um pouco maior do que
aquele ser que estava à minha frente. Ele definitivamente não tinha aqueles
braços, mas realmente, os traços eram os mesmos. Além disso (e dessa parte eu
me lembro muito bem), o beijo dele foi o melhor de todos os que já dei em um
Carnaval.
- Felipe! - Quase
gritei.
- Eu não acredito que te reencontrei, depois de tanto
tempo. - Ele não parava de sorrir. - Eu até tentei te procurar anos atrás
depois que a gente ficou, mas só sabia o seu primeiro nome, então não tinha deu
certo.
- Sério? - Senti-me lisonjeada.
- Sério, mas infelizmente minhas habilidades de FBI foram
bem insuficientes.
Não pude evitar uma risada.
- Continuo sem acreditar. - Ele continuou, sem perder o
sorriso por um momento que fosse. - Eu nunca esqueci de você. De vez em quando
me pegava pensando: “por onde anda aquela menina?”
- Você mudou hein?
Ele me olhou de cima abaixo.
- Você está mais linda ainda.
Mordi o lábio, reprimindo minha alegria, para que não
ficasse muito estampada no rosto.
Felipe voltou a falar:
- Que sorte a minha te achar aqui. Olha, eu estou com uns
amigos e é melhor voltar, mas o que acha de eu te levar pra sair hoje à noite?
- Hoje à noite?
- Se for tudo bem pra você.
- É sim, claro, vou te passar meu número.
Ele tirou o celular do bolso e começou a anotar a
sequência de números que fui ditando.
- Pode salvar como Babi Basco.
- Então tá bom, Babi Basco, te pego às sete. - Finalizou
com uma piscadela e então se afastou.
Passei o dia inteiro animada.
Estava sem acreditar que o dono do melhor dos meus beijos de Carnaval tinha me
encontrado na praia, e ainda por cima estava mais gato que nunca!
“Muito obrigada, pintura abstrata de nascença!”
Tomei um banho demorado, passei perfume e uma maquiagem
leve. Deixei meus cabelos soltos e coloquei um vestido laranja longo de verão,
que deixava as costas de fora.
Meus pais até riram da minha cara por me ver tão animada.
A verdade é que já fazia mais de seis meses desde que eu tinha me apaixonado
pelo Giovani e quebrado a cara, eu estava precisando de uma coisa nova para
abalar o coração. Eu realmente aprendi a maneirar nas expectativas e não fiquei
fantasiando sobre cada rapaz que me olhava. Mas este não apenas me olhou, além
disso, eu já sabia que, ao fim do encontro, teria um beijo maravilhoso me
esperando.
Desci
pelo elevador às 19:55 e, pontualmente às 20:00, ele estacionou o carro branco
em frente ao prédio onde alugamos o nosso apartamento.
Fui em direção ao bando do passageiro, quando Felipe se
apressou e saiu do carro, deu a volta e abriu a porta para mim. Ele estava com
o cabelo penteado, uma camiseta branca, calça preta e um perfume forte simplesmente
maravilhoso. Minha vontade era de agarrá-lo ali mesmo, mas me segurei, enquanto
agradecia-o pelo gesto gentil.
- Então, aonde vamos? - Perguntei, logo após colocar meu
cinto de segurança.
- Ao encontro que eu sempre quis te levar.
Não pude evitar uma onde de alegria que me invadiu
enquanto ele contava que nunca tinha me esquecido e sempre tivera uma pequena
esperança de me reencontrar.
- Em algum Carnaval por aí, nos recomendados do
Instagram... eu sei lá. O importante era que acontecesse.
E aconteceu.
Ele colocou uma música que eu odiei (Trap... viu? Eu não
só amo coisas, posso odiar algumas também), mas não pedi para trocar, pois não
queria ser indelicada, e logo chegamos ao píer da cidade.
Ele me conduziu até um restaurante flutuante azul e
branco, onde comi uma salada e tomei drinks com nomes temáticos de
criaturas marinhas. Durante as conversas, descobrimos que nossos gostos eram
completamente diferentes (torcíamos para times rivais, ele gostava do Lewis
Hamilton e eu do Max Verstappen, ele gostava de cerveja e eu de destilados,
além das preferências musicais e do fato dele não ser muito fã de arte e
literatura, diferentemente de mim).
- Mas, às vezes, os opostos se atraem. - Felipe declarou.
- Tem que ver como é a química.
E essa eu já sabia que era boa.
Aquele rapaz foi nada menos que um cavalheiro a noite
toda e, quando a conta chegou e eu fui pegar minha carteira, ele não deixou que
eu pagasse um centavo sequer.
- Quando você sai comigo, você não paga nada. - Foram
suas palavras.
Eu sei que não deveria ligar para isso, e meu lado
feminista realmente não ligou, mas meu lado romântico achou muito gentil da
parte dele.
Continuando a noite, que eu não queria que acabasse,
fomos dar uma caminhada na praia, não indo muito longe do píer e, à luz da Lua,
ele me tomou em seus braços e declarou:
- Você é maravilhosa.
Após isso, seus lábios tocaram os meus fogos de artifício
estouraram em meu peito. Nossas línguas foram se enrolando e eu enlacei seu pescoço.
Coloquei uma das mãos em seu rosto e outra em seus cabelos curtos, enquanto o
beijo se intensificava. Cada vez mais fogos se faziam presentes, e meu coração
fez como se quisesse pular do peito. Felipe apertava cada vez mais os braços ao
redor de minha cintura, e nossas bocas se mexiam ritmadas.
Foi logo que coloquei a palma da mão direita sobre seu
peito e senti que os fogos também estavam estourando lá, que ele parou de me
beijar.
- Preciso de um ar, ou isso aqui vai ficar indecente.
O pior é que eu queria que ficasse...
Depois daquele encontro
perfeito, Felipe e eu nos vimos quase todos os dias durante as duas semanas
seguintes, trocando confidências, sonhos e muitos e muitos beijos.
No terceiro dia da primeira semana, ele me levou até o
apartamento que estava alugando com alguns amigos, enquanto todos os outros
estavam em um bar, e fizemos amor apaixonado. Ele beijou cada centímetro do meu
corpo e rasgou elogios com relação à minha beleza entre gemidos.
Por fim, ficamos aproximadamente duas horas só abraçados,
nos deleitando com a presença um do outro, dando pequenos beijos e fazendo
carinho.
Eu não queria que aquilo acabasse.
O amor se repetiu mais oito vezes durante o tempo em que
estivemos juntos, e a verdade é que, quando não estávamos fazendo, ou queríamos
fazer, ou estávamos em um estado de tanta compreensão mútua, tagarelando ou em
completo silêncio, que nada mais importava.
- Eu não quero que isso acabe. - Falei, fazendo carinho
em seu peito.
- Nem eu. - Concordou.
Eu não sabia o quanto um amor de verão poderia ser
intenso, até vivenciá-lo. A verdade é que eu adoraria ter um relacionamento de
verdade com Felipe, mas morávamos em regiões opostas do estado, e
coincidentemente nos encontramos no litoral duas vezes.
Ambos comprometidos com seus respectivos trabalhos e
apegados demais à própria família, não víamos possibilidade de alguém se mudar
(além de nem termos um relacionamento sólido o suficiente para fazer essa
loucura), então decidimos finalizar por ali, combinando que avisaríamos um ao
outro quando estivéssemos na praia, com a intenção de vivenciar de novo pelo
menos um pouquinho do paraíso que foram nossas duas semanas juntos.
Ainda trocamos mensagens de vez em quando, e acho que
jamais serei capaz de esquecê-lo.
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