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Borderline

 

            É curioso como consigo ir do tudo ao nada em cinco segundos. Em um momento estou pulsando entre convicções de que deveria desistir de tudo, mas com a maior determinação vista em mim nos últimos anos; em outro, me caracterizo como nada além de nada, a personificação do marasmo e chamando o sentimento de tédio para não dar medo.

            Também há os momentos em que meu corpo se enche de esperança e consigo sorrir perante a algum estímulo, sejam boas notícias ou a simples sensação de que vai estar tudo bem; aí logo tudo isso some e eu me deito para não ter de pensar no culpado pelo sumiço.

            Eu converso com um garoto e fico pensando sobre como seria bom me apaixonar de novo, apesar de isso me fazer ficar checando o celular a cada dois segundos para ver se o objeto dos meus desejos já mandou algo novo; depois estou amaldiçoando-o porque já faz uma semana que decidiu parar de me responder e eu provavelmente vou morrer sozinha (aqui não busco dissertações sobre o fato de que todos morrem sozinhos, afinal, não estamos grudados com ninguém, é só para ser uma frase de efeito mesmo).

            Intensidade é a palavra-chave, e é dela que extraio a maior parte do que chamo de produção, mas é dela também que provém o que eu quase poderia chamar de contusão sentimental.

            O meu lado racional analisa tudo e diz que faz sentido. As peças se encaixam e é uma delícia ser classificada e colocada em uma caixinha, porque assim eu tenho como saber como lidar com as coisas daqui para frente.

            De tudo que estas oscilações me proporcionam, acho que o pior de tudo é o comportamento com relação às pessoas, porque as afasto o tempo todo (isso é quase um reflexo natural para mim), sinto medo, quero distância e não hesito em dizer que não gosto delas, então me isolar seria a reação mais lógica; mas hoje mesmo passei vários momentos sentindo-me solitária e renegada. É verdade que foi toda a minha trajetória que me trouxe aqui: eu me afastei, e tampouco faço o necessário para criar novos laços (às vezes eu até tento, mas geralmente dá errado e me sinto desconfortável outra vez), não deveria poder reclamar. O fato é que me sujeito a qualquer tipo de relação e me agarro a ela só para poder dizer que existe algo. Pois algo, por pior que possa ser, deve ser melhor do que nada, não é? Não. Não mesmo. Isso é desgastante e já faz tempo que me sinto exausta.

            Não experienciei o estereótipo da maioria das fases da vida de uma pessoa, e aí se encaixa o “não sei o que há de errado comigo, só sei que me sinto diferente, sinto que não me encaixo”. Pulei o namorado de adolescência, a maioria das festas de faculdade e os encontros com uma melhor amiga para tomar vinho (prefiro tomar chá, mas a bebida aqui não vem ao caso, e sim o fato de os encontros serem raros).

            Com outros traços do quadro, de fato não me identifico, mas o intuito deste relato é dizer que me sinto confortável colocando a culpa nele (no quadro, não no relato) e não sei até que ponto isso é saudável. Pelo menos agora não me sinto mais tão desesperada por atenção (mentira, me sinto sim, mas posso dizer que não sou eu, é o quadro).

            Talvez eu até já tenha que falado demais, mas considero que fui reservada em minhas palavras, então não devo me preocupar.

            A quem fica, divirta-se (os tons pastéis te acalmam também). A quem vai, boa sorte (seja no que for que você vá precisar enfrentar).

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