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Os Três Rapazes - parte 8


 LUIZ EDUARDO

 

         Minha mãe não tinha comparecido ao funeral, então estava me esperando quando cheguei em casa.

         – Você chegou tarde. Já está escuro lá fora. – Ela disse, me abraçando. – Como foi lá?

         “Deprimente, horrível, doloroso.”

         – Foi ok. – Falei, baixinho.

         Tomei um banho, jantei e já estava pronto para dormir quando me lembrei de uma coisa.

         “Onde será que está?”

         Levantei num pulo, jogando as cobertas para o lado.

         Quando a gente terminou (ou melhor, quando ela terminou comigo), eu escondi bem no fundo do armário, para não pegar e me sentir mal, mas também não tinha tido coragem de jogar fora. 

         “Achei!”

         Puxei uma caixinha de papel pardo, não muito grande, debaixo das minhas calças jeans, e abri. Lá dentro estavam bilhetes e cartas que a Ceci tinha me dado no decorrer do nosso relacionamento. Na verdade, até antes do nosso relacionamento começar de fato, alguns eram de quando começamos a interagir no colégio.

         Cacei um que conhecia bem e abri:

         ‘Seu cabelo ficou muito bom assim’

         Esse foi o primeiro bilhete que ela me mandou, no dia em que cortei os cabelos e finalmente me tornei irresistível para ela. Mexi mais um pouco na caixa e encontrei outros bilhetes memoráveis:

         ‘Não consigo me concentrar nessa aula chata com você na minha frente’;

         ‘A tarde de ontem foi maravilhosa’;

         ‘Só estou pensando no beijo que vou te dar mais tarde’.

         Me peguei sorrindo e pensei se ela ainda guardava os bilhetes que eu tinha mandado antes de dar fim à sua vida. Será que ela também releu elesvárias vezes depois do término? Ou será que jogou tudo fora? Infelizmente eu provavelmente nunca terei a resposta para essas perguntas.

         Olhei mais alguns bilhetes e então me deparei com as cartas: a de seis meses de namoro, a de um ano de namoro e a de término.

         ‘Luiz, 

         Faz seis meses que você deixa meus dias mais felizes. Que eu encaro as aulas com mais leveza e que tenho vontade de me arrumar demais para ir ao colégio (olha o que você fez comigo).

         Gostar de alguém é muito simples, mas o que gosto mesmo é de dizer que com você aprendi a amar. Você é o meu amor! E eu sei que somos muito novos e só Deus sabe o que nos espera daqui prafrente, mas sou imensamente grata por ter a oportunidade de te amar.

         Podemos comemorar da maneira mais simples que for, desde que você esteja comigo, vou me sentir feliz (também por esquecer um pouco esse papo de vestibular, nem que seja por uma noite). Não precisamos ir a lugar algum, não precisamos trocar presentes bonitos e nem mesmo tirar fotos, só prometa que vai me dar a sua mão.

         Da sua,

         Ceci.’;

         ‘Luiz,

         Caraca, faz seis meses que eu não escrevo uma dessas. Deve ser porque estava muito ocupada estando feliz ao teu lado.

         Como assim já se passou um ano? Um ano desde que você me pediu em namoro, desde que penso em você todas as noites antes de dormir (mentira, já fazia isso antes, mas depois se tornou oficial), um ano que encho a boca para falar: ‘O Luiz Eduardo é o meu namorado’, um ano que tenho um sorriso bobo no rosto e me sinto imensamente feliz.

         Hoje eu abro o meu coração para você mais uma vez, esperando que passemos mais anos juntos, fazendo o de sempre: transbordando. Não vou dizer que nos completamos, porque cada um de nós é inteiro, mas você adiciona as melhores coisas à minha vida: tranquilidade, segurança, alegria, vivacidade e, sobretudo, amor.

         Já estão faltando palavras para me expressar direito, mas o principal vou dizer de uma vez: eu te amo! Obrigada por este último ano, hoje à noite vai ser incrível.

         Da sua,

         Ceci.’;

         ‘Luiz,

         Me sinto um pouco mal fazendo isso com você, pois, das outras vezes em que te escrevi cartas, foram em momentos felizes.

         É fato que a gente foi muito feliz junto, e eu sinto muito, muito mesmo, por ter que colocar um ponto final nessa felicidade, mas outro fato é que ela já não existe mais. Pelo menos, não da forma como era.

         Esta carta é para simplificar as coisas, para não precisarmos ter uma longa conversa sem sentido e sem que você entenda os meus motivos. Sei que vai doer, pois está doendo em mim também, mas está na hora de seguirmos caminhos diferentes.

         Eu não consigo mais ser a sua Ceci, não consigo mais entregar a você os momentos gostosos que costumávamos ter juntos e de forma alguma consigo me sentir confortável com isso. Neste momento eu nem mesmo preciso que você entenda, apenas que aceite a minha decisão.

         Estou diferente por dentro, de um jeito que nem mesmo sei como definir, e não quero carregar você para baixo junto comigo. Eu sei que você já percebeu, e até já tentou me fazer sentir melhor, mas não é tão simples.

         Me desculpe novamente. Sempre terei nossos momentos bons no coração, como lembrança, que é o status que eles deverão receber daqui pra frente. 

         Nos vemos por aí.

         Ceci’.

         Olhei mais uma vez para aqueles papéis, entendendo tudo como nunca, e então guardei de volta na caixa (eu iria decidir o que fazer com ela outro dia, não estava pronto ainda). Enxuguei mais algumas lágrimas que brotaram durante a leitura e senti que, finalmente, tinha me despedido da maneira correta, não só da Ceci, mas do que ela tinha sido para mim. Ela foi o meu primeiro amor (e também o único até o momento), sempre será lembrada e também amada. Eu nunca tinha mesmo deixado de amar ela, mas agora precisava deixar ela ir. 

         Fechei os olhos e adormeci.

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