Eu começo apenas como um pensamento.
Um talvez perante à provocação. Por que te disseram isso? Não sei. Por que
qualquer coisa teve a audácia de agredir o teu pequeno e gentil coração? Não
cabe a mim saber, sou apenas reação.
E aí os dutos começam a se encher.
Eu sei que você tem vergonha de mim. Sei que acha que sou sinal de fraqueza e
que não quer me mostrar para o mundo, tanto que a primeira coisa que faz assim
que eu faço menção de aparecer é apertar os olhos. O que você acha que vai
acontecer? Que vou voltar para dentro de você? Não existe isso.
Depois, você passa a mão pelo
caminho que percorri, para ver se apaga os meus rastros e, junto, leva toda a
dor que provocou minha saída. Não adianta tentar me prender. Não adianta tentar
me segurar. Eu clamo por liberdade! Estou aqui para avisar ao mundo que há algo
de errado dentro de você.
Não é fácil ser como sou, pois
geralmente não sou aceita, e é verdade que junto comigo vêm as sequelas: olhos
inchados, rosto vermelho, nariz que escorre e até dor de cabeça; mas não
adianta, há algo dentro de você que precisa sair, ou você por acaso vai querer
toda essa tensão acumulada dentro de você?
Talvez fosse mais fácil se eu não
existisse, se a provocação fosse recebida de maneira neutra, como todos
almejam: “eu não estou nem aí para isso”, tantos dizem, mas será mesmo? Já vi
muita gente me segurando enquanto usava estas palavras.
Não é vergonha, eu juro. Há rostos
nos quais eu apareço mais e aqueles nos quais apareço menos, e tudo bem. Mas,
se você é um desses nos quais eu apareço constantemente, tenha a certeza de que
quero rolar pelo seu rosto enquanto limpo a sua alma. Eu sei que dói, e peço
perdão por isso, mas estou apenas cumprindo o meu propósito, assim como você
tenta fazer todos os dias. Às vezes falha, aí eu apareço, e você me varre com
as mangas de sua blusa para o esquecimento, querendo expulsar o seu sofrer
junto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário