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A Risada de Santo Antônio

 

          Sempre fui uma menina romântica, do tipo que gostava de ver filmes de princesa e depois cresceu lendo romances. Sonhava com um primeiro beijo especial, daqueles de seriados de TV, e com um namoradinho com quem pudesse crescer, como o Rodrigo de ‘Minha Vida Fora de Série’. Minha mãe, durante a minha adolescência, sempre dizia que eu não deveria namorar, pois era muito nova, assim como um menino da minha idade, que seria igualmente imaturo.

          Não tive um primeiro beijo especial e nem um namorado de adolescência, mas tudo bem, pois sempre poderia suprir minhas necessidades românticas com obras de ficção, e assim fiz e faço até hoje. Só não contava que minha mãe se sentiria incomodada com isso.

          Ela? Como assim? Não era ela que queria me ver solteira? Acho que não depois dos vinte anos...

          Coleciono uma série de projetos de relacionamentos medíocres desde a minha maioridade, tentando fazer como que algum deles dê certo e me garanta a aventura romântica que acredito que mereço. Nada de sucesso, todos duraram pouco e acabaram mal. Tudo bem, eu acho, só não era para ser.

          Vinte, vinte e um, vinte e dois... foi com essa idade que viajei pela segunda vez a Nova Iorque, com minha mãe e irmã. Dona Angélica, sendo bastante religiosa, fez questão de conhecer algumas igrejas em nossa viagem. Foi assim que, em nosso primeiro dia na ‘Big Apple’, acabamos na St. Patrick’s Cathedral, uma catedral gigantesca e linda, com as imagens de vários santos.

          Entre os que avistamos, lá estava santo Antônio, o santo casamenteiro. Mamãe o viu e só não gritou por respeito ao local santo, mas eu juro que ela o faria. ‘Pode ajoelhar!’, me disse. Acho que alguém está cansada de me ver solteira. Eu, que nos últimos anos me convenci de que um relacionamento não é a prioridade da minha vida, e que tenho muito com o que me preocupar antes de pensar em idealizar um homem, ri. Ajoelhei, obedecendo minha mãe, mas com um sorriso abobalhado no rosto.

          Já se passaram quase dois anos desde então, e toda vez que encontro alguém do sexo masculino eu me arrependo de ter mostrado os dentes em frente a um dos donos das festas juninas.

          Desculpe-me, santo Antônio!

          Vou explicar: a minha risadinha, que fez parecer que eu não levo o trabalho do santo à sério, não deve tê-lo agradado muito, pois, desde então, conheci um novo fundo do poço tratando-se de relacionamentos, e a solidão tem sido o momento mais tranquilo, acredite.

          Nas poucas vezes em que cheguei a pensar em me envolver com alguém novamente, o resultado foi mais caótico do que todas as outras vezes entre os dezoito e vinte e dois. Planos não saem do papel e homens surgem com admiração apenas para se retirarem alguns segundos depois, desgostosos ou simplesmente dando uma de mestre dos magos.

          Novamente, não é como se um relacionamento fosse a coisa mais importante nesta minha vida, mas até as minhas quedinhas dão errado. Quem deve estar rindo no momento é santo Antônio, então o meu consolo é saber que, ao menos, estou servindo de entretenimento para ele.

          Não sei se devo fazer algum tipo de novena, pedir desculpas em uma basílica ou comer de seu bolo, porque a situação não está fácil. E se eu mesma estou agoniada, imagine a situação de minha mãe? Vendo sua filha de vinte e quatro anos encalhada. Agora é ela quem deve estar se arrependendo de ter me mandado não namorar dez anos antes, porque eu levei a ordem muito à sério (eu já disse que obedeço a minha mãe, e até sorrio para fazê-lo, lembra?).

          Não estou desesperada, mas cada vez com menos vontade de entrar em contato com qualquer um que seja, porque eles costumam me decepcionar. Por sorte ainda tenho os romances de páginas e telinhas para suprirem minhas vontades de princesa.

 

 

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